quarta-feira, 8 de junho de 2011

Crítica: X-MEN - Primeira Classe (por Urbano)

Incoerência com a trilogia e buracos no roteiro impedem que se torne uma obra prima.

Dito assim, parece que eu odiei o filme. Ainda mais com quase todo planeta o exaltando a algo divino. Eu curti, mas não a ponto de ficar cego pros defeitos que saltaram da tela. Não me odeie. Vamos lá?

Começando pelas coisas boas: o tom do filme é sério (ufa!) e fã de quadrinho sabe o quanto isso é importante. Se já penamos sendo tachados de infantis porque nossos entretenimentos prediletos são fantasiosos, volta e meia o cinema contribui nas adaptações bem bobocas que reforçam no público não leitor toda essa má impressão. Quem despreza quadrinhos perde toda graça, nuances e sabor do  melhor casamento entre arte e literatura do legado humano, mas se quiser ficar insistindo que é infantil sem ter lido um Gen, Maus, Lobo SolitárioWatchmen, Batman Ano Um ou mesmo meu predileto: Miracleman, o que posso dizer é: por favor, vá ler outro texto. Perdi minha paciência com quem discrimina quadrinhos.

Ainda ficou alguém? continue lendo
Essa agressão é só pra puxar o motriz de X-Men: discriminação. A desculpa é uma mutação que avança pessoas a um próximo estágio de evolução, cada qual a seu modo em toda parte do planeta e esses mutantes tendem a ser temidos e discriminados pela raça então no domínio; homens comuns. A rigor, não há nada de científico nisso. No mundo real a evolução se dá pela seleção natural, mas... uma coisa de cada vez, Stan Lee não é cientista.

No filme, por mais fantásticos que sejam os personagens, eles são mantidos tangíveis dentro da situação "realista" que se encontram. O elenco principal merece o elogio em parte por isso, interpretaram sem preconceito, nem Professor X nem Magneto são superficiais em qualquer momento, pelo contrário tem uma carga de dramaticidade completíssima.  E ainda há o bem bolado gatilho da inserção num dos momentos políticos mais tensos da história moderna: a crise dos mísseis em Cuba.

First Class começa com a apresentação do riquinho Charles Xavier que descobriu ser telepata na infância. Em contraponto ao horror que passou Erik Lensherr, menino que, prisioneiro num campo de concentração nazista, descobriu numa situação extrema seus poderes em controlar campos magnéticos. A história avança para 1962 e enquanto Charles vai se tornando uma autoridade intelectual enfim a serviço da CIA, Eric adulto, está caçando os nazistas que o vitimaram. Em algum momento eles vão se encontrar e iniciar uma amizade tentando equilibrar seus pontos de vista. Postos em posição chave, há decisões a se tomar pela perspectiva do que a humanidade possa reagir à revelação dos mutantes no planeta. Xavier acredita na convivência pacífica entre humanos e mutantes. Erik prefere não se arriscar, quer a humanidade pagando pelos pecados.  O mesmo roteiro que eu malho no início do texto eu elogio rasgadamente aqui: essa parte é muito bem costurada, a fantasia é abraçada sem embaraço algum e enquanto é desenvolvido o fio condutor que vai chegar na crise dos mísseis, o mundo crível não é balançado pelo fantástico. Na verdade o diretor Matthew Vaughn (fez o bom mas que acabou de modo bem irregular, Kick Ass) ainda conseguiu um bônus nesse roteiro que foi o de brincar com ambientes 007 tanto na trilha de vingança de Eric Lensherr quanto na puxada dos vilões do Clube do Inferno liderados por Kevin Bacon com o por vezes caricato Sebastian Shawn. E tem uma coisa que eu particularmente curto demais; nos quadrinhos o Clube do Inferno tem suas roupas de gala e putaria bem pitorescas. Aqui no filme isso é mantido com engrenagens bem justificadas. Nem precisava, mas foi um requinte. Uma coisa que demonstra um cuidado, um capricho delicioso. O filme vai evoluindo quase tudo muito bem e pela primeira vez temos combates entre seres poderosos bastante parecidos com páginas de quadrinhos de X-Men. Destaco o Azazel que usa seu poder de teleporte do modo mais prático possível na derrota dos oponentes. Isso foi 10.

Mas o 10 não permeia tudo. Maquiagem bem abaixo da média e várias cenas de efeitos visuais incomodaram; certas manifestações de poder foram algo similar a coisas feitas pra tv, Smallville da vida. Isso ajudou a impedir alguma emoção naquela cena chave que ficou devendo, auxiliado pelo que X-Men não teve até o momento: uma trilha sonora memorável. Aliás o filme não emociona muito, a trilogia anterior nesse ponto e até mesmo THOR mesmo com um roteiro tão menos elaborado, consegue empolgar mais. Novamente a música simplória do desenho animado dos anos 90 ainda é mais marcante que a de uma produção cinematográfica de milhões de dólares. Mas se fosse apenas isso, tudo bem. O problema foi o roteiro que parece ter sofrido pressão de executivos especialmente em seu desfecho pra deixar coisas bem mastigadaças ligando a trilogia anterior...  e foram aí as maiores erratas.

Vou dar minha nota agora: 7,8 atmospheras

Leia também:  Crítica de THOR


Abaixo tem uma série de spoilers que explicam os buracos que comentei lá em cima. Leia apenas se você já viu o filme.


SPOILERS


As incoerências e buracos foram:


Em X-MEN 3 num flahsback que se passa pelo menos 20 anos depois dos eventos em First Class, Charles Xavier e Magneto são amigos ainda quando vão abordar a pequena Jean Grey. Além de serem amigos, Xavier está ANDANDO. Logo ele não poderia ficar paralítico em First Class.

Foi dito na trilogia original que Xavier e Magneto construíram o Cérebro. Em First Class é Hank McCoy.

Em X- Men - o Filme,  Xavier não tem idéia de como Magneto consegue bloquear os poderes dele. Ou seja, o capacete não poderia ter surgido em First Class.

Quando na parte final os mísseis ameaçavam matar todos os mutantes, Azazel simplesmente poderia ter ido embora e levado quem quizesse dali e não ficar como um bobo olhando os mísseis.

Um pouco antes disso, Xavier estava no controle da mente e por conseguinte do corpo de Sebastian Shawn. Se ele não queria Sebastian morto mesmo, poderia ter ido embora dali usando o poder de Sebastian e não haveria nada que Erik pudesse fazer.
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Agora uma implicância minha: precisava um filme sobre discriminação ter cometido de novo o clichê de matar de forma mais horrenda justamente o único negro na trama?

3 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Acabo de ler sua critica e gostei, apesar de discordar de algumas coisas. No entanto, concordo que o roteiro foi bem elaborado na forma como é apresentada a relação entre Charles e Erik sendo construída. Ficou bem interessante mesmo. Gostaria que mostrassem a amizade deles como algo que tenha durado mais tempo, não necessariamente até eles ficaram velhos. Ate ai, tudo bem.

    Uma coisa que incomoda é incoerência desse mesmo roteiro com os filmes anteriores. Se fosse apenas uma questão de adaptar algo dos quadrinhos e mudar isso ou aquilo, como acontece em toda adaptação de HQ, tudo bem. Isso é inevitável. Agora, para quem acompanha mais os X-Men dos filmes e quase não conhece a fundo a história dos mutantes nos quadrinhos, ficará perdido com esses furos que você bem citou nos spoilers. Ouvi dizer que talvez eles encarem a possível série de filmes de First Class como um reinicio. Se for assim, talvez a confusão diminua.

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  2. Obrigado Jaka.
    Marcus, curti First Class, mas preferia que ele tivessem feito um X-Men 4 corrigindo as falhas do terceiro. A continuação de X-Men First Class pode corrigir as falhas deste. Mas em ambos os casos isso poderia ser forçado. mas bem que eu preferia, rsrs.

    Com tantas citações de First Class ligando a trilogia e até com umas preocupações amarradas como a justificativa da idade da Mística, não faz sentido que seja um reinício. Abs!!!

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