quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

CRÍTICA - Robocop 2014 (por Urbano)

Uma ficção científica assustadoramente possível.

Estabelecendo alguns pontos antes de começar essa crítica: sou fã do Robocop clássico de modo a saber as falas de cor.  Sou fã do José Padilha pelos Tropa de Elite e Ônibus 174. Achei ele ideal pra um remake de Robocop e sim: sou a favor de remakes. Não, eles não estragam os filmes originais. O original continua lá. O problema é que raramente um remake é feito com fôlego próprio e qualidade equivalente.

Robocop de 1987 foi muito provavelmente inspirado nos japoneses O Oitavo Homem (1963) e Cyborg 009. Muitas semelhanças de décadas antes de Paul Verhoeven. Sem falar de Astro Boy (1952). Portanto antes de dizer que o Robocop atual copia Jiraya, pense de novo.

Contra a nova versão,  há muita má vontade dos fãs do original que condenam o novo antes mesmo de assistir. E quando assistem, qualquer coisa se interpreta pra combinar com a condenação prévia a que já se tinha feito. É uma pena essa atitude não apenas sobre crítica a um filme, mas por qualquer senso que se tenha na vida.

Há de se entender - diferente de concordar - o porque dessa má vontade. O primeiro Robocop foi tão impressionante e o segundo foi por um caminho tão bom que parecia que a franquia estava estabelecida. Mas o que tivemos no terceiro, nas séries de tv e desenhos animados: tentativas de infantilizar. Ficou então o desejo de uma retratação que nunca aconteceu. Ano após ano os fãs alimentaram um novo capítulo pra Alex Murphy dentro da história e personagens originais  como foram apresentados. Mas nada foi feito.

Acontece que passou tempo demais praquele mundo ser revisitado e continuar crível tal como foi idealizado em 1987. Próteses com a tecnologia atual igualam a movimentos rápidos em atletas paralímpicos. Um Robocop lento em nossa atualidade não venderia eficiência. Se você o enfrentasse, não iria mirar no peitoral a prova de balas enquanto poderia facilmente acertar no queixo desprotegido de algo que vai na sua direção há um quinto da sua velocidade. Não, não estou apontando defeito num filme que adoro. Estou dizendo que aceitamos o que nos foi apresentado pois estávamos impressionados com tantas qualidades em uma outra era.

Anos 1970. Na série O Homem de Seis Milhões de Dólares, o recurso pra mostrar Lee Majors correndo em alta velocidade com seus membros biônicos era justamente o de colocar a imagem em câmera lenta. Nós é que abstraímos e, por querer dar suporte a idéia, compramos a noção de que ele se movia mais rápido que um ser humano comum. Isso seria ridículo já nos anos 1980. Mas quem curtia a série estava satisfeito.

Acho que provei meu ponto.

E o novo, como ficou?
Aceitando que meu Robocop predileto não funcionaria num futuro ainda mais acelerado que nosso tempo presente e de que Peter Weller é um senhor de idade. Fui ao cinema assistir ao Robocop de José Padilha vestido por Joel Kinnaman, aceitando sim as atualizações. Curti desde o início os trailers, a nova armadura, a agilidade e o conceito: nesse futuro o domínio da robótica já é pleno. A OCP na figura de Raymond Sellar  (Michael Keaton, excelente), já trabalha em conjunto com exército vendendo robôs que controlam a pacificação urbana em diversos países. E Sellar quer expandir seu mercado colocando robôs dentro dos EUA. Mas a população não aceita.  Daí a necessidade de um elemento que a sociedade adote e celebre como herói. Sellar entra em acordo com o gênio da robótica e próteses Dennet Norton (Gary Oldman) pra encontrar um candidato que esteja numa situação física tão limite que aceitaria a proposta mais radical.

E quando falo de radical, nem imaginei que fosse tanto. Ponto pro filme ousado em certos momentos que achei muito fortes pra uma censura PG-13 e devo ter pesadelos. Isto foi um elogio. Aliás, Padilha conseguiu driblar os limites da tal censura com maestria tal como ele comanda sem erro as coerências desse futuro que parece a meia vírgula de acontecer.  Se trata acima de tudo, uma ficção científica assustadoramente possível. As cenas que abrem o filme são tão impactantes e verossímeis que a frase ingresso já pago, se justifica. Dá vontade de ver mais da ação desse futuro em outros países, outras histórias acontecendo. E essa abertura é pontuada com informações totalmente parciais do apresentador Pat Novak (Samuel L. Jackson) de direita que apóia totalmente a idéia de Sellar. O grande capricho está em cada frase ou diálogo dos personagens que não estão ali sendo carregados pelas circunstâncias, mas tentando moldar cada ato a seu favor e todos, muito inteligentes em seus pontos de vista. Confia-se no intelecto do público.

Seguem-se as justificaticas irretocáveis da criação do Robocop em seu contexto e frames da base científica. Quando as armaduras são apresentadas, novo alívio: em nenhum momento parece um homem vestido com uma fantasia e sim uma máquina carregando o que sobrou de um ser humano. Blindado, nada frágil e tome-lhe ajustes e alterações e levantes sobre livre arbítrio já que Alex Murphy tem implantes que pensam por ele na hora da ação. O conflito se dá justamente pela extrema eficiência do produto. Até esse momento, se trata de um filmaço!

O problema é o depois.
Ficamos esperando mérito de Alex Murphy e essa oportunidade não aparece, ele está dependente um tanto demais. Em dado momento um ato de coragem se transforma numa surra homérica onde é salvo por um clichê. A frieza das máquinas parece também ter afetado esse mundo pois apesar do elenco principal ser ótimo, os coadjuvantes vilões (exceto Keaton) são de isopor. Não há catarse quando criminosos são derrubados. Outro incômodo é próprio Joel Kinnaman. Tem bons momentos pontuais, mas poderíamos sentir mais de alguma introspecção. O que ocorre a ele não foi nada fácil o que Padilha faz questão de lembrar de modo chocante, ousado e que nem precisava repetir. O recado ja estava dado. Assim como as repetições de Samuel L. Jackson poderiam ser reduzidas em prol de algo criativo pois lá pra terceira vez cansa e ficamos torcendo pra algo novo acontecer e não uma estrada reta que conduz até o final.

Esse é o problema do novo Robocop; faltou tempero. Algo inusitado, um passo além, alguma surpresa mesmo dentro do excelente novo conceito culminando num final com um ápice mais emocionante. Seja como for, o que foi estabelecido merece que tenha as consequências exploradas e uma chance de Alex Murphy fazer a diferença por mérito próprio.

6,7 Atmospheras.






3 comentários:

  1. Excelente Crítica, gostei muito da mobilidade do novo Robocop, ele está mais máquina e é mais mortífero agora, não tem aquela coisa de andar levando um monte de tiros a toa! Quero o 2!

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    1. A nova armadura impressiona, ela consegue ser pesada e ágil quando necessário. Um acerto!

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  2. Discreto não: quero muito que tenha continuação com a mesma equipe, mais grana envolvida e um senso de algo diferente precisa ser incorporado :) abs!

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