sábado, 30 de outubro de 2010

Crítica - Tropa de Elite 2 (por Urbano)



Uma mensagem que vai além da política e um filme de ação como poucos.


Vamos falar de encanto. Quando criança, era um prazer enfrentar filas de cinema com irmãos mais velhos que me levavam pra assistir Trapalhões. "Tempo" era uma coisa que ainda não estava  extinta nos anos 80. Enfrentar fila por entretenimento não era necessariamente aborrecido. Naquela época, filme com Renato Aragão era sim sinônimo de qualidade e desprendimento e não uma metralhadora demagoga. Mas também era época de ôba ôba; o cinema nacional com uma exceção ou outra trazia a mesmice de palavrões gratuitos, elite usando drogas e perdoem a palavra; apenas putaria da pior qualidade.
E olha que particularmente eu adoro uma putaria. Mas não aquela ali. Era feio; iogurte estragado. A mesma sensação de entrar num ônibus e se deparar com um banco sujo onde alguém passou mal minutos antes. Filmes brasileiros tinham uma sentença: podres. Refletia apenas a vida imbecil de seus realizadores e panelinhas que usavam a desculpa (quando usavam) de não querer imitar o cinema gringo. Correto; não vamos imitar o cinema gringo mas...o que ofereciam pra gente? Não faziam cinema pra passar mensagem sequer. Faziam pra si mesmo. Uma vitamina com duas frutas: ego e frivolidade. As produções boas não sobreviviam nesse mar.

Que bom que algumas coisas mudam.

A tela verde e amarela  hoje está se tornando o nêmesis do que foi há duas décadas.  Ainda se encontra uma bobagem ou outra se esgueirando, mas sem sobrevida às boas produções. Tropa de Elite 2 que é apenas o segundo longa metragem de José Padilha estraçalha qualquer contraponto ou sorriso debochado e reduz  a resistência velha ao que realmente é: recalque de pensamentos antigos e cineastas que nunca deveriam ter sido.
Tropa 2 já consegue o impressionante feito de ser ainda superior ao que já era excelente. Você não se depara com uma repetição dos eventos passados. 16 anos depois o agora Secretário de Segurança Nascimento passa a lidar com um monstro que tem seus tentáculos se movimentando para além do Rio de Janeiro. E pior; ele própio ajudou inadvertidamente a nutrir esse monstro lá atrás. O sistema é vivo, maligno e reagente. Como acabar com ele? oferecendo alternativas e até mesmo algumas respostas diretas, a saga do herói (ou qualquer coisa que tenhamos perto disso) continua e avança muito às construções do primeiro e  em nenhum momento deixar de ser um entretenimento eletrizante. O roteiro de Bráulio Mantovani é muito maduro e sabe usar fórmulas "gringas" digamos assim pra falar uma linguagem universal sem cair em armadilhas de previsibilidade. A orquestração de José Padilha prima em valorizar o poder do roteiro e traduzir em cenas que contam visualmente sem serem redundantes à narrativa do protagonista; nenhum segundo de imagem é despropositado ou vazio. O elenco por sua vez é possivelmente o maior acerto de talentos já reunidos. Não bastasse a assustadora atuação do baiano  - carácoles, o cara parece que nasceu aqui no Rio - Wagner Moura que deveria levar no mínimo um Oscar, até os personagens que aparecem apenas alguns segundos impressionam com trejeitos e reações distintas. Aproveito pra registrar aqui minha opinião também sobre a atuação de André Ramiro que faz o Mathias: excelente! basta ver uma entrevista e constatar que ele nada tem a haver com o personagem. E se o elenco é bom assim, a culpa do melhor de cada transpirar na tela é da preparadora de elenco Fátima Toledo, a mesma de Cidade de Deus. Ao sair da sala de cinema é impossível não sentir um certo orgulho lembrando de que o filme que acabou de assistir não é uma produção com Bruce Willis que custou 200 milhões de dólares. Custou  uma fração disso com dinheiro do bolso dos envolvidos. Ah, quase termino o comentário deixando de lado mais um elemento essencial, até pra quem não presta atenção, a trilha de Pedro Bromfman é linda e enervante, presta atenção na cena da invasão da favela. Pois é senhores cinema nacional, excelente cinema nacional.

Nota: 10 Atmospheras!


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