terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crítica - Tempo de Glória (por Urbano)

Glória esquecida

É interessante como as pessoas se referem a filmes com mais de 10 anos sintetizando todos eles a "eu assisti na Sessão da Tarde." Isso, filmes que NUNCA passaram na Sessão da Tarde. Meu comentário é apenas um apontamento ao quanto anda crescendo uma mentalidade pasteurizada. Afinal, que importância teria se foi ou não na Sessão da Tarde?  apontamento tolo desse tal de Urbano.

Então vamos a um mais relevante: o quanto você ouviu falar do filme Tempo de Glória? pois é. A internet nos traz essas surpresas que foram novidade há mais de 20 anos. O diretor Edward Zwick reuniu Denzel Washington, Morgan Freeman, Cary Elwes e Matthew Broderick no papel de sua vida: a do coronel Robert Gould Shaw, liderança do primeiro regimento de negros que lutou na sangrenta guerra civil dos EUA.

Um pouco de história
Sim, eu posso concordar no quanto os americanos não prestam e tal. Mas há muito que isso deixou de ser sinal de anti-alienação. Se olhar a história com atenção suficiente, não sobra muito país mocinho, apenas quem ganha e quem perde. A guerra civil foi de 1861 a 1865 e vencida por Abraham Lincoln que era contra a escravidão. Apenas 19 dos 34 estados tinham a escravidão proibida e o sul não queria abrir mão de seu recurso lucrativo de trabalho braçal na agricultura. 11 estados formaram a Confederação que tentou derrubar a União (de Lincoln). Os dois lados começaram a montar seus exércitos e, no caso da União, os negros poderiam se alistar e serem pagos, o que era certa "vantagem" já que mesmo livres, era difícil conseguirem uma renda. E isso só foi possível porque houveram baixas demais e precisavam de homens. Ou seja: não eram bem recebidos pelas forças de Lincoln. Até pra lutar por sua dignidade ao lado dos próprios anti-escravistas foi uma coisa difícil pros negros conseguirem.


Muitos que lutaram pela libertação dos escravos viam a escravidão como uma coisa errada, mas jamais enxergaram os negros como iguais.


Robert Gould Shaw era um "menino rico" que escrevia para os pais e não muito levado a sério como comandante militar. Era uma época de desespero e não podiam escolher muito. Tipo mulheres quando o fim do ano vem chegando e cai a ficha de que a maior parte dos príncipes encantados estão com outros príncipes encantados.  Enfim... em 1863 ele tinha apenas 23 anos, um batalhão composto de pessoas humildes sem qualquer experiência em combate e desacreditado. O horizonte não tinha promessas.


Edward Zwick já abre o filme com uma grandiosa e intensa cena de batalha a fim de introduzir Shaw e o modo perdido dentro da situação que encara. A medida que os personagens vão surgindo, reaprendemos o quanto a integridade é uma coisa relativa; os negros estavam praticamente sozinhos.  Repito: A libertação deles era vista em muitos lugares como um mal necessário e não um bem urgente. Nesse ponto, o personagem de Denzel Washington aqui representando um rebelde incisivo mesmo dentro do regimento a que serve, força o foco nessa realidade que ninguém tem tempo de olhar, mesmo uma vitória, seria a vitória de brancos e para brancos.

Dê-lhes o inferno, 54!
O roteiro de Kevin Jarre dosa o tempo certo pra mostrar os personagens por dentro, seus dramas e pensamentos sem perder o fio histórico e a distribuição das cenas de batalhas. Não fica "didático" como se arriscaria e sim algo fluido de coração. Zwick por sua vez, capta o olhar e expressões econômicas de Broderick que, com um acerto que foi a trilha sonora de James Horner (e olha que esse cara vive uma autocópia) transmite uma das cenas mais emocionalmente poderosa e ao mesmo tempo contida da história do cinema. Dessas de arrepiar os pelos dos braços e fazer você querer estar lá lutando pelo que é certo. Filme intenso, bem dirigido demais, com ótimas atuações e uma excelência para Matthew Broderick que de curiosidade, é um parente distante do próprio Shawn.

Claro, Broderick é muito mais conhecido por papéis cômicos e por conta disso a reação bizarra de algumas pessoas é: " Nossa, eu olho pra cara de Matthew Broderick - ou Jim Carrey, digamos e tenho vontade de rir." Talvez seja o momento de uma consulta psiquiátrica.

Ganhou Oscars de melhor ator coadjuvante (Denzel Washington) fotografia e som. Na minha opinião, simplesmente um dos melhores e mais emocionantes filmes épicos já realizados.

Nota: 10 atmospheras!

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